domingo, 13 de janeiro de 2013

Cabelos brancos



Houve um tempo no futebol em que a antiguidade era um posto, os jogadores jovens tratavam os mais velhos por senhor e os treinadores eram poços de sabedoria comprovada, bem diferente desta moda dos jogadores de catálogo e dos técnicos de aviário. Os árbitros tinham de sobreviver a longas carreiras até se tornarem respeitados e os adeptos iam à bola pela mão dos pais, começando por aprender as regras de jogo e as da convivência.

Esta evocação faz sentido no dia em que a Liga envelhece com a estreia, em frente-a-frente, de Jesualdo Ferreira e Manuel Cajuda, os únicos sexagenários de um campeonato que tinha começado com a mais baixa média de idades de sempre entre os treinadores. Tal como já acontecera no ano passado, a aflição dos clubes fá-los apelar à experiência, ao saber e à calma dos veteranos.

A irreverência dos jovens vive na proximidade do dislate, da precipitação, do erro de cálculo. Por isso, quando uma equipa em crise aguda de confiança, como o Sporting, apela aos serviços de quem já tenha enfrentado situações tão más ou piores, para interromper um ciclo nas mãos de lideranças imaturas, o sofrimento torna-se mais leve de suportar e a solidariedade cresce na razão da simpatia pelos cabelos brancos.

A experiência e a falta dela, a bonomia e a crispação, a tranquilidade e a sofreguidão, o saber e o pretensiosismo, o Mundo e a paróquia – eis o que também traduz, neste dia em que o campeonato começa a amadurecer, os 14 anos de vida e de futebol que separam Jorge Jesus de Vítor Pereira, independentemente deste ou daquele resultado pontual.
E ainda foram a idade, as longas épocas e os muitos clássicos que recomendaram a escolha de João Ferreira para o grande confronto de hoje. O afastamento dos árbitros aos 45 anos é, aliás, um dos absurdos do futebol moderno, em contraste com outros desportos profissionais, porque a falta de experiência é a maior inimiga das decisões difíceis.

Publicado no Record de 13-1-2013 

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